com a palavra

Delegado de homicídios de Santa Maria fala sobre carreira e segurança na cidade

Michelli Taborda

Fotos: Arquivo pessoal

Os crimes contra a vida sempre preocuparam a população de Santa Maria. Com o crescimento no número de homicídios, entre os anos de 2014 e 2017, a Polícia Civil decidiu criar a Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), em 2016, que investiga crimes de assassinatos, latrocínios, acidentes de trânsito e casos de desaparecidos na cidade. Desde a criação da DPHPP, em fevereiro daquele ano, o delegado Gabriel Zanella capitaneia a equipe que trabalha 24 horas nas investigações e que se dedica a elucidar cada vez mais casos. A dedicação é tanta que, em 2018, houve a redução de 22% de homicídios consumados em relação a 2017.

Com 35 anos, Zanella é casado e pai de dois filhos - um menino de 5 anos e uma menina de 2. Apesar de ser um dos delegados mais requisitados na cidade, a família costuma ficar longe dos holofotes. O trabalho como delegado de um dos departamentos talvez mais perigosos e delicados dentro da Polícia Civil divide espaço, também, com os momentos de lazer com os filhos, nas poucas horas vagas de que o servidor dispõe.

Além de atuar como delegado de polícia desde 2010, Zanella já foi assessor da promotoria no Ministério Público de São Borja, onde morou por cerca de um ano e meio. Santa-mariense, o delegado é formado em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria e mantém uma rotina disciplinada e de muitos momentos de fé.

Diário de Santa Maria - Como decidiu se tornar delegado de polícia? 
Gabriel Zanella - Sempre gostei da polícia e admirei os policiais, bem como o trabalho desenvolvido. O apreço pela investigação e o dinamismo da atividade impulsionaram-me a optar pela Polícia Civil.

Diário - Já pensou em deixar a Polícia Civil?
Zanella -
Atuo como delegado de polícia desde novembro de 2010. Antes, fui assistente de promotoria do MP em São Borja. Trabalhei como delegado de polícia titular em Formigueiro, Júlio de Castilhos e Faxinal do Soturno. Em fevereiro de 2016, fui lotado na DPHPP de Santa Maria. Nunca pensei em desistir. Os desafios e os sofrimentos fazem parte da vida. Não raro, muitas cruzes devem ser vencidas antes da vitória. Jesus Cristo nos ensinou isso. A minha aprovação no concurso para delegado de polícia foi precedida de muito estudo e de superação. Poucos meses antes da prova de capacitação física (na qual havia corrida), rompi integralmente o tendão de Aquiles do pé direito. Fui submetido à cirurgia e tive muitas dores na recuperação. Graças a Deus e à equipe de saúde, consegui me recuperar bem e fui aprovado nos exames e provas físicas. O apoio da família e o fato de trabalhar com policiais civis competentes, dedicados e éticos me motivam a seguir em frente.

Durante cerimônia de inauguração da DPHPP em Santa Maria, em 2016, junto ao delegado regional Sandro Meinerz, o ex-governador José Sartori, o ex-prefeito de Santa Maria Cezar Schirmer e demais colegas da Polícia Civil

Diário - Como delegado de homicídios, como vê a situação da violência? A que atribui esse problema e como acredita ser possível diminuir os índices de criminalidade?
Zanella - 
A repressão qualificada e eficiente aos homicídios deve estar diretamente associada ao combate às facções criminosas, especialmente às atuantes no tráfico ilícito de drogas e de armas de fogo, que partem dos presídios. Trabalhar com inteligência policial contra a lavagem de dinheiro com a consequente descapitalização das facções e de seus líderes é fundamental. Destaco o alto índice de elucidação (90%) dos homicídios consumados em 2019, bem como o elevado número de prisões (a quase totalidade preventivas) realizadas por meio da DPHPP de Santa Maria. Em 2019, foram 25 adultos presos 5 adolescentes apreendidos. Em 2018, houve a redução de 22% de homicídios consumados em relação a 2017.

Diário - Como foi a experiência em atuar nas investigações do caso Kiss?
Zanella -
Integrei a equipe de policiais civis que trabalhou desde a madrugada do incêndio até o término e entrega final do inquérito policial principal, 55 dias após a tragédia. Foi o período em que mais trabalhei na vida (12 horas ou mais durante os sete dias da semana). O trabalho foi extenuante, física e emocionalmente. A Polícia Civil fez uma investigação de excelência: tecnicamente foram apontadas todas as responsabilidades dos envolvidos num período de tempo curto, considerada a complexidade dos crimes investigados e o elevado número de vítimas.

Diário - Qual foi o caso de maior destaque na sua carreira?
Zanella - Os crimes que mais me chocaram na profissão foram: tragédia na Boate Kiss (janeiro de 2013) e duplo latrocínio ocorrido em fevereiro de 2018 (pai e filho foram mortos com disparos de arma de fogo no interior da residência em que moravam, na Rua Floriano Peixoto, Centro de Santa Maria). Dois feminicídios tiveram investigação muito difícil (Ana Lúcia Drusião, maio de 2016 em Dilermando de Aguiar; Andressa Thomazi Schimidt, agosto de 2016 em Santa Maria): a autoria foi esclarecida nos dois crimes. Uma investigação que exigiu muito trabalho da equipe foi a que resultou na localização do corpo de uma mulher em agosto de 2018, enterrado embaixo de uma pocilga situada no pátio de uma residência na região oeste de Santa Maria (três pessoas foram presas e os crimes de homicídio e ocultação de cadáver foram elucidados).

Como delegado titular da DPHPP, durante os trabalhos do caso em que o corpo de uma mulher foi encontrado enterrado dentro de um chiqueiro, em Santa Maria, em agosto de 2018

Diário - Que dificuldades identifica no trabalho como delegado e, mais especificamente, de delegado de homicídios?
Zanella - 
O trabalho policial com a finalidade de elucidar graves crimes é muito desgastante física e psicologicamente. Nossas maiores dificuldades atualmente são de natureza material. A delegacia é uma casa alugada, inadequada ao trabalho policial. Também há carência de combustível e pagamento insuficiente de horas extras para a grande demanda de serviço.

Diário - Como concilia a vida tumultuada no funcionalismo com a vida pessoal?
Zanella -
É um grande desafio conciliar a vida pessoal familiar com o permanente sobreaviso 24h, o atendimento aos locais de homicídios dolosos e, consequentemente, a investigação dos crimes. Procuro ser disciplinado, organizado e estabeleço prioridades para otimizar o tempo. Sou profundamente grato a Deus por não esmorecer nesta tarefa. Agradeço à minha família - especialmente à minha esposa - pelo amor, pela compreensão, paciência e pelo apoio diário recebido. Minha gratidão também a todos os policiais civis e demais profissionais da segurança pública com os quais já trabalhei e trabalho, em razão da amizade, do coleguismo, da dedicação e do profissionalismo deles.

Com colegas da Polícia Civil durante treinamento de tiro

Diário - Existe algo que ainda almeje fazer dentro da Polícia Civil de Santa Maria?
Zanella - 
Desejo continuar trabalhando dedicadamente e em equipe: fazer o melhor, apesar das dificuldades, a fim de prestar um serviço qualificado à comunidade.

Diário - Quem é Gabriel Zanella quando não está atuando como delegado? 
Zanella -
Procuro dedicar-me à família, sobretudo aos filhos quando não estou trabalhando. Gosto de viver com discrição e de passear com a família, caminhar e brincar com as crianças ao ar livre. Nas férias, realizamos viagens em família. Participar do Movimento Apostólico de Schoenstatt ajuda-me muito em tudo o que faço no trabalho, na família e nas relações interpessoais.

Em entrevista sobre a atuação da DPHPP

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